Ele soma experiência nas duas áreas. Foi diretor administrativo financeiro e presidente da Empresa Pública de Saúde (RioSaúde), e atua como síndico profissional, contador, e sócio-fundador da RGcont Finanças e Condomínio, além de ser membro da Comissão de Contabilidade Condominial do Conselho Regional de Contabilidade do Estado do RJ, entre outras atividades.
Por isso, a provocação de Richard Guedes, especialista em Controladoria Pública pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), e em Desenvolvimento em Liderança, esta pela Fundação Dom Cabral, é irresistível: pensar a administração de um condomínio com o senso de responsabilidade, os desafios e as possibilidades de uma gestão no campo hospitalar.
Que tal conferir o que é possível aprender com essa analogia? De que forma os síndicos podem ser beneficiados com essa simulação?
“Existem muitas ações em comum. Uma delas é a Atitude de Dono e o pertencimento que um líder preparado e com o devido motivo deve ter. Primeiro, é necessário entender para quem entregar um bom serviço: hospital = paciente, e não aos médicos. condomínio = morador, e não ao síndico e conselheiros. Parece óbvio, mas, na prática, não acontece com frequência. Um leito hospitalar pode ser equiparado a um quarto de um apartamento condominial. É normal você chegar do trabalho e querer descansar sem barulhos ao seu redor. Em prédios em que seu gestor é respeitado, isso acontece com educação”, defende.
Guedes acredita que bons métodos de gestão podem ser usados em qualquer área de atuação profissional. Um exemplo é o sistema Kaizen.
Criado no Japão após a Segunda Guerra Mundial, o Kaizen é um conceito que indica o aperfeiçoamento diário. Para o restante do mundo, a metodologia ficou conhecida principalmente após ser adotada pela montadora Toyota em seu sistema de produção.
Em hospitais modernos, é aplicado para reduzir o tempo de espera de clientes no atendimento. Um gestor que estuda esse sistema consegue implantar ganhos em qualquer campo profissional.
“Estou falando de um método mundialmente conhecido de melhoria contínua. Ele surgiu no Japão, pouco tempo após o término da Segunda Guerra, combinado com teorias administrativas do conceituado engenheiro e autor francês Jules Henri Fayol. As ideias inovadoras de melhorias em processos do estatístico e professor americano William Edwards Deming. Sempre dá para melhorar o que já está bom”, afirma o especialista.
Retomando a analogia proposta com os hospitais, os pacientes seriam, então, os moradores, aponta ele.
“O médico deve entender a necessidade do paciente realizando exames para investigar a causa e, em alguns casos, necessitando da avaliação de uma junta médica para o diagnóstico. Já o síndico, no seu protocolo de soluções, deve correlacionar a necessidade do morador, avaliando se é pertinente ao regimento interno. Existe também uma ‘junta médica’, que pode ser acionada. Nesse caso, os conselheiros. O síndico é o diretor médico/administrativo do condomínio. Tal função não é para amadores ou indivíduos sem profissionalismo. Fundamental ter cursos e experiências comprovadas na área para combater o bom combate diário e vencer, sempre dentro das regras.”
E há mais similaridades, garante.
É possível adotar duas cores na horizontal das paredes, para evitar sujeiras na cor mais clara. Avisos claros e objetivos, e o famoso cheiro de limpeza. Nada disso deve deixar de existir em condomínios. Gosto muito dos tapetes dos apartamentos padronizados com o número da unidade. É fazer e conferir os elogios no grupo do WhatsApp do condomínio.
O síndico deve ter um diferencial. Não pode ser só mais um. Eu gosto de avisos claros e objetivos sobre o Regimento Interno.
O síndico precisa lembrar o tempo todo que existem regras, como pedir silêncio nas áreas comuns e corredores. Em um hospital, este procedimento já acontece. Basta implantar no seu condomínio.
Richard Guedes conta ter aprendido, na seara hospitalar, que contratos que oferecem um pacote de serviços com a matéria-prima são mais econômicos que contratos separados.
Exemplo: contratar uma manutenção de ar-condicionado mensal com troca de peças, altamente certificada, junto com pequenos reparos de manutenção com material bruto embutido, evidencia a gestão com Atitude de Dono em um hospital/condomínio.
“O preditivo é mais importante que o preventivo. Se chegamos no corretivo, a resposta deve ser rápida, sem grandes gastos, e com total lisura. Em órgãos públicos, temos a figura do fiscal do contrato, que pode ser atribuída aos conselheiros fiscais/consultivos de um condomínio. Funciona resumidamente assim: o serviço é prestado e verificado se ocorreu dentro do escopo do contrato, o previsto no edital. O orçamento é verificado para saber se está dentro do programa. A nota fiscal é assinada pelo fiscal, liberando o pagamento. Alguma relação com condomínio? Claro, e 100%. Cabe ao síndico implantar essa cadeia de controle e fazer acontecer”, conclui.